terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Onde está Deus nas tragédias do Haiti?

O bacharel em filosofia e articulista da Folha Hélio Schwartsman não perdeu a oportunidade de pregar seu ateísmo utilizando como pano de fundo a tragédia no Haiti. Ele sugere que, pelo fato de o terremoto ter ceifado vidas inocentes, incluindo a de crentes, Deus está ausente. No texto "Deus e a terra", ele afirma que "é justamente para combater a ideia de que o acaso (e com ele a ausência de propósito) está no comando que, suspeito, criamos a noção de Deus". O fato é que tragédias existem desde que o pecado entrou no mundo. Na verdade, o pecado é a verdadeira tragédia - o resto é consequência. Lúcifer deu origem a isso e ainda atribui a Deus os resultados de sua rebelião insana. É verdade que inocentes morreram no Haiti, assim como morrem inocentes todos os dias, desde que nossos primeiros pais saíram pelos portões do Éden. É verdade que a boa doutora Zilda Arns morreu numa igreja, mas significa isso que Deus abandonou Sua filha em pleno serviço em prol dos desvalidos?

O apóstolo Paulo foi um dos gigantes da fé. Operou milagres e levou a mensagem de esperança a lugares distantes, sofrendo perseguição, espancamento e prisão em nome de Jesus. Depois de anos de trabalho e dedicação, Deus o enviou para Roma, a fim de que pregasse o evangelho na capital do Império. E foi lá que Paulo morreu decapitado. Deus não poderia tê-lo poupado da morte? Por que o enviou justamente para a cidade em que sua vida seria ceifada? O fato é que Deus não vê a morte como o ser humano a vê - ou melhor, como o ser humano sem Deus a vê. Claro que é triste a perspectiva da separação das pessoas a quem amamos. Mas para aqueles que creem na Palavra de Deus e nas promessas seguras de Jesus, a morte é apenas um sono do qual despertaremos por ocasião da segunda vinda de Cristo. Por isso não precisa haver desespero. Não precisa haver indignação. Precisa, sim, haver confiança irrestrita no amor e cuidado de Deus; de que Ele sempre sabe o que é melhor para nós e quando é melhor. É como escreveu Michael Green: "Fé não é acreditar sem provas, é confiar sem reservas - confiança em um Deus que Se mostrou digno dessa confiança."

Por isso Jó pôde declarar: "Embora Ele me mate, ainda assim esperarei nEle" (Jó 13:15, NVI). É esse o tipo de confiança que têm aqueles que convivem com o Criador e sabem que Ele existe, não porque os livra de todos os males terrestres, mas porque Se revela claramente para eles, fala com eles; é tão real quanto o amor que se sente, mas não pode ser visto nem tocado.

Paulo descansou em Roma. Zilda descansou no Haiti. "'Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante.' Diz o Espírito: 'Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão" (Apocalipse 14:13).[MB]

Segundo meu amigo de Portugal Felipe Reis, "se, segundo esse tipo de raciocínio [do Schwartsman], as tragédias demonstram que não existe Deus, o fato de milhares de pessoas desinteressadas se disponibilizarem para ajudar ao seu próximo com amor não deveria demonstrar que Ele existe?" E outro amigo, o Marco Antonio Dourado, de Curitiba, enviou um e-mail para o Schwartsman. Suspeito que não será publicado na Folha, mas você pode lê-lo aqui:

"Bom dia, caro Hélio. Como de hábito, li sua coluna na Pensata de ontem, 'Deus e a terra', e me ocorreram algumas considerações que gostaria de compartilhar contigo.

"No tristemente célebre debate entre Rousseau e Voltaire acerca da existência de Deus, decorrente do problema religioso resultado do grande terremoto de Lisboa em 1755, devo adiantar que não lhe reconheço a validade. Rousseau, o castelão suiço cujo amor à humanidade e temor a Deus era demonstrado na contumácia com que abandonava em orfanatos os bastardos que trazia ao mundo, representa tão bem o teísmo quanto Hugo Chavez representa a democracia. Já Voltaire, coitado, conseguiu traduzir à perfeição o Iluminismo, do qual foi prócer: morreu suplicando por luz; eis aí o retrato mais bem acabado do chamado 'Século das Luzes'.

"Essa dupla de fósseis insepultos costuma ser trazida à baila, geralmente por ateus, em épocas de grande comoção mundial em face de catástrofes naturais. É do jogo. Conforta-me que nessa hora os cristãos, pelo menos os cristãos de verdade, abandonam tais diatribes e partem em auxílio aos desgraçados (o que, aliás, muitos ateus, com a graça de Deus, também fazem). É por essas que neste momento nem me vem à mente o bestialógico otimista 'Carta a respeito da Providência',* de Jean-Jacques. Penso apenas em pessoas como Zilda Arns. O Amor, matéria-prima de Deus, não é uma emoção ou mesmo um sentimento; é um modo de ser. Dona Zilda, em sua vida e em sua morte, é prova inconteste dessa proposição. Sua estatura espiritual e moral recolhe os arrazoados oportunistas e estéreis à sua verdadeira dimensão: a irrelevância.

"Mas será que a discussão em si pertine? Certo que sim, mas não agora. Melhor em outra ocasião. Hoje, diante do horror em Haiti, devemos mais é externar por meio de atos aquilo de que, de fato, somos feitos. Alhures, de volta à normalidade possível, poderemos reencetar a questão filosófica. Nesse caso, devo adiantar que se nos for dado voz, que ao menos possamos escalar o nosso time - coisa que os ateus, tão prestimosos, tão desapegados, adoram fazer por nós. Como Rousseau não merece sequer ser gandula da partida, eu poderia evocar Heinrich Heine e seu comovente ato de fé renegando o virulento ateísmo que até então promovera. Melhor, no entanto, é apelar a Antony Flew, um dos mais cultuados e atuantes filósofos ateus do século 20. Compreendo que seu livro Um Ateu Garante: Deus Existe tenha feito com que os ateus militantes deixassem de lhe reconhecer a existência física, intelectual e moral. Isso não nos surpreende a nós, cristãos: 'Mas a sabedoria é justificada por TODOS os seus filhos' (Lucas 7:35).

"Não sei quem os ateus elegeriam para contestá-lo. Richard Dawkins, aquele gigolô da dissonância cognitiva alheia? Não, meus irmãos ateus! Por tudo o que é sagrado, não! Não me façam sentir por vocês a vergonha que são incapazes de sentir por si mesmos.

"Por falar em dissonância cognitiva, uma excelente recomendação de leitura:A Prova Evidente, de Gershon Robinson e Mordechai Steinman. Leitura rápida, simples e deliciosa, que analisa esse fenômeno. Resumindo:

"Dissonância cognitiva é um artifício psíquico subliminar destinado a proteger o indivíduo de informações que lhe tragam desconforto mental. Ela costuma ocorrer com qualquer um de nós, e pode nos levar a ignorar teses e teorias complicadas, que nos façam sentir 'burrinhos'. Procura também evitar a ruína daqueles nossos imensos e arraigados investimentos intelectuais, ruína que depauperaria nosso vasto patrimônio de certezas acalentadas. Os mecanismos da dissonância cognitiva podem guindar a informação indesejada à áreas da memória pouco acessadas, uma espécie de aterro sanitário da nossa mente. Podem também provocar uma reação física visivelmente manifesta: impaciência, irritação, cinismo, fleuma afetada, antipatia pela fonte da informação e até, em casos extremos, levar à distimia crônica.

"Penso que antes de qualquer debate, especialmente os de natureza 'Deus existe?', cada pessoa, ateia ou teísta, deveria dar uma boa lida na obra desses dois autores judeus e submeter-se a um exame de consciência. Seria como um purgante mental para nos livrar de preconceitos até então inegociáveis. Só assim o diálogo prosperaria em direção à luz que faltou a François-Marie Arouet em sua última hora."

(*) Sobre o tal otimismo aventado por Rousseau, nunca, jamais deixarei de citar o escritor católico George Bernanos, que formulou um aforismo feito sob medida para, entre muitos, o autor de O Contrato Social: "O otimismo é uma falsa esperança para uso dos frouxos e imbecis. A verdadeira esperança é uma qualidade, uma determinação heróica da alma. E a mais elevada forma de esperança é o desespero superado."

Michelson Borges

Um comentário:

  1. Justamente ontem estava lendo sobre isso no livro "Eventos Finais" da Ellen White, no capítulo 2 onde fala dos sinais antes da volta de Cristo.

    Lá fala que o inimigo está atacando com todas suas forças e que haverá terremotos e grandes desastres onde nunca se imaginou, que lamentavelmente muitos sofrerão e perderan seus bens e até suas vidas e esse, mais do que um momento para lamentar e criticar, é o momento de acordarmos e vermos as terriveis consequencias do pecado e percebermos que o tempo está acabando, que devemos tomar nossa decisão de sermos salvos pela eternidade, do lado de Deus nosso salvador, ou ficarmos do lado do inimigo que so traz maldade e destruição.

    "As nações estão agitadas. Tempos de perplexidade se acham diante de nós. O coração dos homens está desmaiando de terror das coisas que sobrevirão ao mundo. Mas os que crêem em Deus ouvirão Sua voz em meio à tormenta, dizendo: "Sou Eu. Não temais." The Signs of the Times, 9 de outubro de 1901". [Eventos Finais pp. 19).

    Acho que em lugar de acharmos que Deus não existe, como propós o senhor Schwartsman, como cristãos devemos ver mais claro que nunca que o fim está perto. Mas não devemos desesperar porque mesmo com o inimigo fazendo o mal (e multiplicando os efeitos do mal que o ser humano tem feito a natureza) nós podemos confiar que Deus está conosco e acho mais perfeito ainda que nós, como filhos que aceitamos nosso Deus e deixamos Ele tomar o controle da nossa vida, não temos nada a temer, nem sequer precisamos temer da morte porque sabemos que Deus nos tem preparado algo muito melhor. De morrer, quase todos morreremos, esa é a consequencia natural para este mundo cheio de pecado e maldade. Mas Deus quer nos dar a vida eterna e por isso, se nos chegarmos a Ele, a morte neste mundo não tem mais importáncia, porque temos nossa esperança firme e sabemos o que ha de vir. A morte já não nos assusta e, mesmo que o inocente morra do mesmo jeito que o mau, mesmo que injustiças aconteçam, quem cré no senhor será salvo, e terá vida eterna, e verá Jesús voltar em breve e tenho certeza que a dotora Zilda Arns, que morreu numa igreja em Haiti, assim como tantas outras pessoas cristãs que tem morrido sabiam disso e não estavam preocupadas com a morte, assim como nós também não estamos.

    E os que perderam seres queridos receberão consolo do Senhor e continuaram a frente e superarão esta etapa.

    O que é morrer para um mundo de injustiça, sofrimento e maldade para o que será viver eternamente com Cristo?

    E é que ao lado de Cristo todas as coisas deste mundo se tornam sem valor, porque temos algo melhor preparado para nós e isso, Sr. Schwartsman é a maior prova de um Deus que existe, que age mesmo com toda a maldade no mundo e que transforma vidas, que traz amor, abnegação, paz e esperança, que tira a dor, a desesperança e o medo até da morte.

    Para nossos irmãos no Haiti, enviamos todo nosso amor, noss compreensão, nossa empatia com o que estão vivendo. Muitas igrejas e até pessoas ateas estão se unindo para ajudar em lugar de criticar e questionar, muitos voluntários estão deixando tudo para viajarem ao Haiti e ajudarem nossos irmãos, movidos pelo amor de Deus, porque tudo o que é bom procede de Deus e Ele estará conosco todos os dias a cada momento.

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